31 de janeiro a 1 de fevereiro 2025
3º Encontro de Alojamento Local dos Açores
3.º ENCONTRO DO ALOJAMENTO LOCAL DOS AÇORES
Abertura
Costuma dizer-se que tudo o que é bom acaba depressa.
Assim foi com o nosso 3.º Encontro do Alojamento Local dos Açores!
Mas para fazer acontecer esta nossa terceira “reunião magna” de dois dias, houve que trabalhar durante muito tempo, praticamente desde o encerramento do encontro do ano passado, em Angra.
A nossa equipa é pequena (todos somos poucos), mas quando arregaça as mangas, faz mesmo acontecer!
E assim foi. “Poucos, mas bons”, (uma dose de autoestima é salutar) fizemos tudo o que estava ao nosso alcance para organizar o nosso Encontro, desta feita em Ponta Delgada.
Mesmo com uma falha aqui e ali, (porque ninguém é perfeito), “erguemos” novamente o cenário, montámos o palco, engendrámos um programa recheado de excelentes oradores e moderadores o Alojamento Local e fizemos mesmo, novamente, acontecer.
E enchemos, praticamente e por muitas horas, a plateia do Teatro Micaelense!
Como já é habitual, nosso Encontro teve início com o discurso do nosso Presidente, João Pinheiro, que começou por dar “as boas-vindas ao 3.º Encontro de Alojamento Local dos Açores, um evento que, ao longo dos anos, se consolidou como uma plataforma de diálogo, reflexão e celebração do contributo essencial do Alojamento Local (AL) para o desenvolvimento económico, social e cultural da nossa Região Autónoma”.
O Presidente da ALA salientou que é graças à participação ativa de todos os associados e convidados “que conseguimos aqui criar um espaço dinâmico para debater os desafios e oportunidades deste setor, que já representa mais do que 60% das camas disponíveis na Região e mais de 40% das dormidas totais nos Açores” e que, em 2023, teve um impacto de cerca de 350 milhões de euros na economia do nosso arquipélago.
João Pinheiro referiu ainda que “o Alojamento Local é muito mais do que números. É uma força transformadora que impulsiona a reabilitação de edifícios antigos, dá vida às economias locais e cria oportunidades onde antes havia estagnação. São espaços que acolhem, encantam e oferecem experiências genuínas, promovendo as nossas tradições e singularidades insulares”.
Mas os desafios do AL não ficaram esquecidos, já que mais de 60% das unidades encerram na época baixa, “o que afeta não apenas proprietários, mas também os destinos e comunidades envolventes”. E é por isso que é necessário “encarar esta realidade com soluções concretas, como o reforço das ligações aéreas, o impulsionar da promoção turística nas épocas de menor procura e o investimento em estratégias de captação de mercados alternativos”, disse.
João Pinheiro abordou também tema da taxa turística que, infelizmente, já é uma realidade nalguns concelhos da ilha de São Miguel, e alertou para o facto de que “a aplicação adequada destes fundos é pertinente. Devemos investir em infraestruturas, garantir a manutenção dos nossos espaços turísticos e preparar a região para a época alta, criando assim ferramentas para uma boa receção aos espaços que, no fundo, são os nossos”, acrescentando que “O AL contribui, de forma significativa, para a economia regional, e os seus proprietários têm demonstrado uma resiliência notável, aproveitando a época baixa para realizar manutenções e investimentos, sempre com a preocupação de demonstrar o nosso melhor a quem nos visita”.
O Presidente destacou ainda o papel central da nossa Associação, única associação regional que representa exclusivamente o Alojamento Local nas nove ilhas dos Açores”, que tem desenvolvido um trabalho incansável para “apoiar os nossos associados, desde o apoio jurídico e contabilístico, até à criação de plataformas digitais inovadoras, para promover as unidades, entre inúmeras outras parcerias”, acrescentado que “o nosso compromisso é dotar os proprietários de ferramentas que os ajudem a crescer, melhorando a sua promoção, desempenho e qualidade de oferta”.
Exemplo disso são a nova página da internet da ALA e a nova aplicação (ou APP, como preferirem) que trazem, quer para os potenciais visitantes, quer para os associados, inúmeras novidades e facilidades.
O nosso Presidente falou ainda das conquistas da ALA, “ao alertar as entidades competentes e incluir o Alojamento Local no acesso a fundos comunitários, nomeadamente nos Pequenos Negócios do Construir 2030”.
Para a ALA, “esta foi uma pequena, mas muito significativa vitória, permitindo que os proprietários possam investir no aumento qualitativo das suas propriedades”, embora seja “fundamental que haja uma revisão do valor limite de apoio, pois, com a inflação, os montantes disponíveis começam a ser insuficientes”.
Outra das conquistas foi a do “anúncio da reprogramação do PRR, reforçando o Solenerge, um programa essencial para a sustentabilidade energética, onde o Alojamento Local pode desempenhar um papel fundamental”.
Ainda a sessão de abertura do nosso 3.º Encontro, o Presidente da Câmara Municipal de Ponta Delgada afirmou que não vai “aumentar os impostos aos cidadãos de Ponta Delgada em detrimento da taxa turística”.
Salientando que “dois euros por hóspede, no máximo de três noites, equivale, talvez, a um happy meal”, Pedro do Nascimento Cabral acrescentou que “O destino da taxa turística está plasmado no regulamento e na lei. Os fundos arrecadados com a taxa turística têm uma finalidade exclusiva: a reabilitação, manutenção e construção de tudo o que são equipamentos ligados à atividade turística” e deu os exemplos das obras necessárias para reparar buracos em estradas, por onde também passam os turistas e ainda o pagamento do fogo de artifício da passagem de ano, entre outros.
Por seu turno, a Secretária Regional do Turismo, Mobilidade e Infraestruturas fez questão de sublinhar que o AL “teve um papel determinante na rápida resposta à procura e, muito em particular, num processo contínuo de elevação qualitativa da oferta e do produto”, destacando “o facto de esta tipologia de alojamento, entre janeiro e novembro de 2024, ter acolhido mais de 1,7 milhões de dormidas, representando 37% da procura, assegurando uma estada media de quase quatro noites, superior à média regional”.
“Já são mais de 23.000 camas disponíveis, ou seja, 58% da oferta total na Região, que atualmente supera as 40.000 camas. Esta importância quantitativa do Alojamento Local é indesmentível, mas é apenas a face mais visível dos impactos que tem tido no desenvolvimento do setor do turismo e da economia das nossas ilhas”, salientou Berta Cabral.
Para a Secretária Regional, é “cada vez mais reconhecido o papel do Alojamento Local na democratização do rendimento, na criação de emprego e autoemprego, na reabilitação urbana, no estímulo a novos negócios de apoio, na dispersão de fluxos turísticos por áreas periféricas das ilhas e, até, na valorização e manutenção da identidade território” da nossa Região.
Para Berta Cabral, “a dimensão que o Alojamento Local representa atualmente na nossa oferta é muito relevante em processos de negociação internacional, de atração de companhias aéreas e de desenvolvimento de redes de distribuição, que podem contribuir para uma melhor distribuição de fluxos turísticos pelo território e ao longo do ano, tendo, por isso, ganhado “uma voz por direito próprio e, com isso, a responsabilidade de ser um parceiro ativo, construtivo e positivo para o desenvolvimento do turismo e da economia da Região”, prosseguiu, afirmando ainda que “o Governo dos Açores tem bem presente esta importância para o destino e esta necessidade de potenciar, cada vez mais, as boas práticas do setor”.”
No final das intervenções de abertura do Encontro, o Presidente da Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores “tem sido um motor de valorização do património edificado e um fator de dinamização económica”.
Luís Garcia adiantou que, “ocupando um papel cada vez mais relevante nas nossas comunidades, o Alojamento Local tem contribuído para a recuperação dos centros urbanos e de imóveis degradados, trazendo nova vida a espaços antes esquecidos”.
O Presidente da ALRA referiu ainda que “a nossa natureza não é apenas paisagem. É, acima de tudo, humana” e, assim sendo, “essencial” que o crescimento deste setor [ do AL] consiga traduzir-se “na valorização do trabalho e da dedicação das pessoas que o tornam possível”.
Luís Garcia enfatizou a importância da organização do 3.º Encontro de Alojamento Local dos Açores, que “já se afirma como indispensável para a troca de ideias, a construção de parcerias e a valorização das pessoas e projetos que dão vida ao setor na Região”.
Após os discursos de abertura seguiu-se uma pausa para visita aos mais de vinte expositores, parceiros da ALA, que demonstraram produtos e serviços prestados.
Painel 1
Após a pausa, iniciou-se o primeiro painel, subordinado ao “Transporte Aéreo e o Alojamento Local: Conexão de Destinos, Impulsionando Negócios”, onde o Presidente da Câmara do Comércio e Indústria de Ponta Delgada salientou que “não temos pessoas suficientes para se formarem para o setor [do turismo]. Temos empregos e precisamos de mais gente”. Mário Fortuna acrescentou que este é “um ponto de partida para termos imigração, o que é positivo”, dada a escassez ou inexistência de mão-de-obra local.
O Presidente da CCIPD lembrou que o setor do turismo representa cerca de 20% (160 milhões de euros) das receitas da Região (800 milhões de euros), sendo já um setor com maior peso do que o setor primário.
Já o Presidente da VisitAzores salientou que o futuro do turismo na Região não pode estar assente em companhias low-cost. Luís Capdeville revelou que a VisitAzores está a “trabalhar para captar novas companhias [aéreas] a voar para cá”, criando “mais frequências, mais voos no inverno, mais concorrência e melhor preço”.
O Presidente do organismo responsável pela promoção turística do arquipélago adiantou ainda que “há um trabalho de cada vez mais proximidade entre a VisitAzores e a SATA”, já que “a SATA tem papel fundamental na Região”.
Para Capdeville, “a estratégia é continuar a trazer mais companhias dos mercados emissores, dar-lhes condições para que, no inverno os números [de passageiros] apareçam”, já que, “quanto maior a notoriedade do destino nos mercados externos, mais fácil é de captar [passageiros].
Por seu turno, o Presidente do Grupo SATA afirmou que a companhia aérea açoriana quer ajudar e vai ajudar o setor a crescer, mas para tal, é preciso que o setor também ajude a SATA.
Rui Coutinho salientou que a companhia aérea “não está em fase de baixar preço, mas vivemos num mercado concorrencial”, onde a competição é diária.
Questionado sobre a escolha de rotas, o Presidente do Grupo SATA esclareceu que esta “tem a ver com os números de dormidas de passageiros que nos procuram indiretamente. Fazendo contas, podemos chegar à conclusão se é ou não benéfico para a SATA e para os Açores criar uma ou duas frequências diretas”.
A Itália foi um dos casos onde tal acontecer, tendo sido “assim que se criou a rota Milão-Ponta Delgada.
Painel 2
No segundo painel do dia, houve espaço para partilha de experiências entre proprietários de ALs de diferentes ilhas dos Açores.
Andreia Meneses, da Terceira, José Costa, do Pico, Vera Câmara, do Corvo e Forjaz Sampaio, de São Miguel, foram unânimes num ponto: é extremamente difícil e por vezes impossível encontrar mão-de-obra, independentemente da ilha, para fazer obras ou pequenas reparações nos imóveis.
Além disso, a questão das acessibilidades esteve também em destaque, já que a falta de voos prejudica, não só o setor do turismo, como também os setores de serviços especializados, onde anteriormente era possível vir, por exemplo, à Terceira, prestar serviços médicos num sábado e regressar ao continente do domingo, sendo que atualmente tal não é possível.
Painel 3
Houve ainda tempo para um terceiro painel, subordinado ao tema “Transformação Digital no Alojamento Local”, onde intervieram Alina Ceirão e João Valente, da Booking.com, Rosa Costa, Diretora Regional do Turismo e Cláudia Araújo, da empresa Zona de Ideias, que apresentou a nova página da internet da nossa Associação e a aplicação (APP) que facilitará a vida aos nossos associados em diversas vertentes.
Aliás, também a página da internet foi pensada, não só para divulgar os nossos associados, mas também para disponibilizar-lhes ferramentas que agilizem a sua interação com a ALA e os seus parceiros.
Painel 4
O segundo dia do nosso Encontro teve início com a realização do 4.º Painel, alusivo ao tema “Alojamento Local Como Incentivo à Reabilitação e Revitalização”.
Neste painel, o Presidente da Câmara Municipal de Angra do Heroísmo mostrou-se convicto de que existe margem de crescimento para o Alojamento Local (AL), nos Açores, já que continuam a existir “imensos imóveis que poderiam ser direcionados para isso”.
Álamo Meneses salientou que “em todos os lugares há imensos imóveis devolutos. Em Angra há milhares”, garantindo que “o problema da habitação não é a falta de casas e muito meso o AL”.
Para o autarca angrense, “o AL acabou por ser uma lufada de ar fresco na reabilitação de imóveis e no crescimento da economia e dos postos de trabalho”.
Também Paulo Lima acredita que “temos margem para crescer, mas temos também de começar a elevar a qualidade em coisas simples, como a eficiência energética e a sustentabilidade”. O Arquiteto referiu ainda que é preciso “pensar no ordenamento. Podemos vir a ter demasiada concentração de alojamentos em certas zonas e depois zonas-fantasma noutros locais”, por isso os “ALs devem estar distribuídos”, para ajudar a “preservar a qualidade de vida dos habitantes e a autenticidade local”.
Raquel Guimarães salientou também que “grande parte dos edifícios que foram reabilitados para AL não seriam reabilitados para habitação” já que, em boa parte, são edifícios grandes, como casas de famílias numerosas, como existiam no final do século XIX e início do século XX.
Para a responsável da Charming Houses Azores, “o AL tem muita margem para crescer. Temos de apostar na qualidade e não na quantidade. Essa qualidade pode ser oferecida pelo Alojamento Local”.
Painel 5
pós uma pausa, para visita aos expositores, o Encontro prosseguiu com um 5.º Painel, dedicado ao “Alojamento Local, Experiências e Sustentabilidades” e onde Cristina Melo, da Local Food Culture, Mário Leal, do Trail Run Azores, Miguel Cravinho, da Terra Azul e Bethany Joy, da Donkeys and Friends falaram sobre o que os motivou a criar toda uma série de experiências a que os turistas e mesmo os locais podem aceder, exemplificando, cada um, a sua área, desde culinária com produtos locais, as corridas em trilhos açorianos, a observação de cetáceos e o contacto e passeio com os simpáticos burros da Donkey and Friends.
Estudo Económico e Impacto do Setor do AL
O destaque deste segundo dia foi, no entanto, para os dados patentes na atualização do Estudo Económico e Impacto do Setor do AL, solicitado pela Associação do Alojamento Local dos Açores (ALA) e realizado por Gualter Couto.
Na apresentação do estudo, o Professor Universitário revelou que o impacto do setor do Alojamento Local (AL) no Arquipélago dos Açores foi, em 2023 (últimos dados conhecidos) de cerca de 350 milhões de euros, tendo vindo a crescer cerca de 24% ao ano, desde 2021.
O Estudo, que em breve será disponibilizado na página da internet da ALA, foi revela que em 2021 o AL representava cerca de 133 milhões de euros para a economia dos Açores, enquanto em 2023 esse número atingiu cerca de 350 milhões de euros, representando cerca de 6,5% do PIB da Região.
Gualter Couto adiantou que o impacto direto do AL na economia açoriana, em 2023, foi de cerca de 140 milhões de euros, enquanto o impacto indireto representou praticamente 108 milhões de euros e o efeito induzido, cerca de 101 milhões de euros.
O autor do estudo revelou que, dos cerca de 350 milhões de euros, gerados direta e indiretamente pelo AL, cerca de 60% é gerado por atividades complementares, sendo o gasto médio diário por hóspede do AL, de 179€.
Já em relação ao emprego, a atualização do estudo revela que 3,4% do total de postos de trabalho da Região estão associados ao AL.
Os dados indicam ainda que 76% das dormidas no AL são geradas por hóspedes estrangeiros, representando os turistas alemães, cerca de 16%, os espanhóis, 15%, os norte-americanos também 15%, os franceses 13% e os hóspedes canadianos 7%.
Em 2021 os estabelecimentos de AL receberam 411,197 hóspedes, enquanto em 2023 esse número aumentou para 720,051.
Já a estada média no AL foi de 3,6 noites, sendo assim superior à estada média nas unidades hoteleiras e no turismo em espaço rural (cerca de 3 noites).
Na Região, existiam, em 2023, 4,422 unidades de AL, o que representou um crescimento de 40% (mais 1,287) desde 2021. Já o número de camas, no final de 2023, era de 23,550, ou seja, mais 6,879 do que em 2021. Já na hotelaria tradicional e no turismo em espaço rural existiam cerca de 15 mil camas.
Do total de unidades de AL na Região, 53% são moradias, enquanto 32% são apartamentos.
São Miguel tem 55% da oferta total de AL dos Açores, seguindo-se o Pico e depois a Terceira.
A título de curiosidade, refira-se que o Faial é a única ilha que tem maior oferta de AL em apartamentos (44% contra 40% de casas). Já nas Flores, 59% dos AL são casas e no Corvo, esse percentagem é de 50%.
Como desafios para o futuro próximo, são apontadas as acessibilidades, o combate à sazonalidade, promoção da qualidade da oferta e investimento em green techor.
Workshop, QUIZ e Encerramento
Por último, houve espaço para um Workshop, sobre “Inteligência Artificial no Alojamento Local: Inovações e Oportunidades”, apresentado por Fausto Silva, da Pricelabs e onde o orador falou sobre diversas ferramentas da chamada “IA” que podem facilitar e agilizar o trabalho aos empresários do AL.
Seguiu-se ainda um “Quiz” para testar os conhecimentos de todos os presentes, sobre a realidade do AL e da ALA.
De seguida, o discurso de encerramento do 3.º Encontro do Alojamento Local dos Açores esteve a cargo do nosso Vice-Presidente.
Al Pinheiro lembrou como começou no alojamento local e recordou a evolução que o setor teve ao longo destes anos, nomeadamente com a criação da ALA.
O Vice-Presidente agradeceu ainda a todos os que estiveram presentes nos dois dias do Encontro e salientou que para o ano há mais, num outro local, a definir.
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